24/05/2009

, e na hora que o bicho agreste morde, Faruk?, o rabo do morto cheirando à camisolas de gordas cadentes como um palavrão uma carniça a penetrar a escoliose-lordose da minha coluna feita de barro de vácuo escoamento de vozes vagas vazias volúveis inventadoras dos fazedores de covardia e castidade e condenação, Faruk, eu não suporto literatura de gente que vive como ostra aberta no fundo do oceano ejaculando ósculos na cratera uniforme e casta do meu desassossego impenetrável e despido e manco e fodido, Faruk, os Beatles cantando Helter Skelter e o tapete de gatos rasgados servindo de cama para Madame Bovary eu vi ela nua dando para Albert Camus de pau duro banguela contente como um existencialista perdido entre os crimes da rua Morgue Garcia Lorca enfrentando a morte de frente, Faruk, e os meus dentes se quebrando no sofá da minha infância memória da velha casa minha mãe tentou me segurar, Faruk, meu pai morreu de infarto no banheiro do hospital e chovia em seu velório e tocava o trenzinho do caipira do Villa-Lobos e nunca ninguém me entregou lembrança que fosse dele eu rezo pelo número zero intocado no chão batido de carne e era dia quando Marcello Mastroianni gravou a última cena de La Dolce Vita de Fellini, Faruk, lembra? meu bonequinho de pano despedaçado Fernando Sabino no meu sonho de braço dado com dois meninos jogando bolinha de gude dentro de uma mala eu não sabia que ele iria morrer no dia seguinte quando Philip Glass arrancou o meu coração com uma colher de plástico eu dancei um tango de Piazolla, Faruk, e dei um beijo nos pés de Augusto Matraga e Jean-Paul Sartre me pediu emprestado um romance do Junichiro Tanizaki que era para Simone dormir melhor e aprender a fazer sushi , Faruk, era para ser diferente aquela gente gorda jogando bomba na casa cabeça dos árabes matando como se mata barata rato mosquito e a menina querendo dar a xixinha por um copo de sorvete um canivete suíço igual aquele do Bart Simpson e Alexander Soljenítsin escrevendo manifestos pelos direitos do escritor, Faruk!?, quero apenas um solo de guitarra de Hendrix para acordar vestido na pele parangolé de Cobra Norato Lobato morar nas terras do Sem-fim ou feito Cuca meu medo de bruxa Clark-Clarice-Virgínia-Hagen-Sontag eu te pergunto, Faruk, diante da lápide do mármore da gérbera branca da fotografia da vela apagada me responda , Faruk, doces ou travessuras?, e

Marcelo Maluf - NAS TERRAS DO SEM-FIM

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