30/06/2009


INFINITO encaixa-se em CORPO/FRAGMENTO

22/06/2009

(emergi música, indispus as asas contra tudo o que não voa. Acordei ouvindo o meu canto, que vinha lá do outro lado de mim (o lado de dentro talvez seja trinado (o infinito talvez seja canoro

Murilo Hildebrand de Abreu

16/06/2009

pela lei natural dos encontros,

eu perco/recebo tanto.

Mistério do Planeta, Os Novos Baianos

Zilma não saiu de casa naquele dia.

Deixou de encontrar o assaltante Alexandre que aproveitaria um descuido para levar-lhe a carteira. Uma quadrilha usaria seus documento em golpes por anos em um outro Estado. Zilma ficaria com o nome sujo. Aguardaria mais que os demais clientes na mesa de análise de crédito até finalmente ser recusada, a despeito de seus protestos. E então numa destas vezes, acabaria se apaixonando pelo funcionário da loja de eletrodomésticos, um sergipano chamado Serapião. Casariam-se e, depois de serem felizes, ele acabaria trocando-a por Giane, uma antiga namorada que conhecera no hospital, enquanto acompanhava sua mãe, vítima de um derrame. Mas talvez não encontrasse o assaltante Alexandre, porque no caminho pararia no supermercado apenas para comprar o que precisava. Diante da abundância de marcas e produtos coloridos, ficaria absorvida mais tempo que o necessário e o encontro com o assaltante não aconteceria. O Alexandre roubaria então um comerciante: na hora de fugir, atravessaria a rua em disparada, e um buraco no asfalto o faria cair sob as rodas de um ônibus. Dentre os passageiros, estaria o desempregado Antônio Coelho que, por conta do acidente, chegaria atrasado ao encontro com sua futura namorada e posterior mãe de seu primeiro filho. O atraso complicaria tudo, Alice receberia um torpedo do seu ex e acabaria desistindo do encontro. Mas a presença de Zilma no supermercado pouparia o ladrão, pois na fila engataria conversa com uma senhora aposentada, dona Tércia. Durante o diálogo que não houve sobre os preços que nunca são satisfatórios, dona Tércia relembraria a falta de material de limpeza. Ela sairia da fila do caixa, ficaria mais tempo no supermercado, e então encontraria Alexandre. Como não houve conversa, dona Tércia só perceberia a falta de material de limpeza no dia seguinte, dia da empregada. Que se chamava Giane e estava apaixonada por um sergipano chamado Serapião. E trabalhava para um português, pai de Antônio Coelho. Que chegou em tempo para o encontro, mas flagrou Alice respondendo ao torpedo. Aquilo gerou uma dúvida, que impediria o namoro de ir mais longe: transaram uma única vez, usando camisinha. E a criança que não nasceu, não se tornaria policial e não salvaria um garoto de afogamento que por sua vez, se tornaria um psicopata, assassino de sete mulheres chamadas Maria, os corpos abandonados à beira de um rio: os jornais chamariam o menino de Cabeça-de-Cuia, uma referência a um monstro folclórico que jamais existiu, por mais que as pessoas insistissem.


Mas Zilma não saiu de casa naquele dia; o homem que a amara na noite anterior a convencera disso. O mesmo homem que revelara o significado de seu nome: escuridão.



Brontops - CONTABILIDADE

09/06/2009


Luis Eduardo Abreu - Mar - fotografia

05/06/2009

Maurício Parra - Escada III - pintura - 2007

04/06/2009


Daniela Pinotti Maluf - Lygia Clark e Merleau-Ponty: Paralelos - fotografia
Fábio Tremonte - Janela - desenho e colagem - 2005
Estava deitado numa calçada fria e seu corpo se esforçava para se aquecer dentro de parcos panos e uma bandeira velha e vermelha. Sentiu um cutucão no ombro esquerdo, olhou no lusco-fusco e seu olhar demorou a reconhecer uma imagem. O autor da cutucada disse:
- Você quer o infinito? Tenho aqui no meu bolso.Basta alguns trocados. O restinho da esmola, sabe.
- Você vende o infinito menino?
- Baratinho.
- Não estou interessado. Me deixe dormir.
O velho chorou e suas lágrimas não foram vistas pelo menino. O matemático socialista não aceitava que até isso virasse produto. “O infinito por trocados”.Se levantou e correu até alcançar o menino.
- Hei, menino! Até quando os números vão?
- Não estou interessado. Me deixe ir.
O velho avançou até ele, esticou o braço esquerdo e lhe deu um soco que atingiu seu olho direito.
- É isso o que eles querem. Que você seja um rato podre que perambule no esgoto desta cidade, seu merdinha. Luta porra!
O menino chorou e suas lágrimas não foram vistas pelo velho. O analfabeto capitalista não aceitava um conselho político após uma porrada no olho. “Até quando os números vão?”
- Até o infinito velho! Se o problema é esse da próxima vez eu vendo a eternidade.


André Amaral - Teorias Infinitas

02/06/2009

Rodrigo Motta - S/ Título - pintura s/ papel - 2008