24/02/2010

"Em seu apelo constante, insistente atenção à tentativa de ser coesa num mundo incoerente, ela se dissocia do todo em silêncio. Liberta, porém, ainda presa e dividida, na batalha diária desta vida, ela grita calada em sua rotina, rotina de guerrilha pelo pão da cria, ela exala perfume doce de flor, na rotina de ser inventiva, alquimista e dançarina, ela se reinventa artista, menina-mulher, fêmea selvagem, primitiva e pós-moderna, camponesa e cosmopolita, ela se aprisiona em si mesma, pela salvação de sua consciência... e se transmuta, transforma, transcende a solidez de seu corpo como arma, sua alma, até que se abra novamente e, generosa, linda, persiga estrelas e vagalumes, e se perceba, de repente, mais leve e intensa de amor."

Calu Baroncelli

Poesia inspirada na fotoperformance Crisálida de Hugo Perucci

Livia Aquino - Sem Título - fotografia - sem data

23/02/2010

Juçara Marçal - S/Título - fotografia - 2009
 
Hugo Perucci - Casulo - Intervenção urbana - dimensões variáveis - 2006
 

21/02/2010

 
Antonio Carlos Goper - Anonimos - grafite e óleo sobre papel - 40x40cm - 2009

09/02/2010

kazuo (ohno)
o gesto pousa casulo
borboleta
voa


 
veronika paulics

André Tietzmann - São Francisco - São Sebastião -lápis de cor sobre papel pardo sobre prancha



03/02/2010

Mariana Zanetic - Maré - objeto - Fevereiro 2010


02/02/2010

01/02/2010

"A semana de sonhos estranhos terminou, por fim, com o seguinte: eu era uma estrutura e ia sendo construído e dentro de mim alguém plantava uma árvore que observada com cuidado se mostrava uma outra coisa. E eu, essa estrutura, era parecido com essa coleção bem disposta de ossos, uma espécie de jaula. E dentro dessa jaula, um gafanhoto do tamanho de um torso nascia em mim."

Novos Estudos sobre a Natureza dos Gafanhotos
Fabiano Ramos Torres
 
Calebe Simões - Quarto - fotografia - 2009
 
Rodrigo Motta - Sem Título - Foto - 2009
 
Alexandre Furtado -"No Jardim" -Acrílica s/ tela - 2009

 
Marcelo Marsan -  Asas de borboletas - fotografia - 2009
Ultravioleta

A fada acorda e recusa-se a despertar. Devia se espreguiçar, abrir os braços, respirar fundo, esticar as pernas, sentir o mundo com os pés... Não dá. Sono pesado demais. Então se aninha mais sob a coberta e enterra cabeça em si mesma, para impedir a luz de se infiltrar sob as pálpebras. Tenta continuar a dormir, sonhar talvez, mas não o som do bosque não deixa. Cigarras. Zumbido de zangões transitando entre anteras e nectários. Sinal de manhã quase madura, o sol pinicando a pele de quem se submete a sair nu sobre o dia. Mas ela está ali, protegida, um nenê em meio ao enxoval. Murmúrio de riacho perto. Tapete de limo nas pedras. Um avião mudo passando lá em cima. A fada sente um pouco de sede, mas ainda não quer se levantar. Deveria ter ido dormir perto do rio, ou sobre as folhas, aproveitaria para beber o orvalho. Ela tenta recordar como viera parar ali, naquele aconchego. Conclusão: acabara de se fechar na crisálida e agora só faltava nascer. Seria sair, rebentar aquela seda e se pendurar no abismo. Então esperar secar as asas, abrí-las, deixá-las na brisa. Ela sairia pelo bosque, pousando entre as flores, procurando as irmãs. Cantoria de passaredo. Brilho metálico dos colibris. Entretanto o não-nascimento implicaria no não-conhecimento do mundo. Tudo seria instinto, inocência ou ignorância. Desconheceria o dia ou a noite, ou os chamados dos insetos, ou os rastros dos jatos no azul ou o odor doce da primavera. Entre as fadas, não se fala em ressuretos ou em reencarnações. Só se conjuga o tempo presente. A fada espera o momento de arrebentar a crisálida. Mas é só delírio: ela não conseguirá. Pois ali, entre os elos e nós das teias, a fada está presa no casulo no veneno no sono de viver.

 
Sérjão Augusto - S/Tíitulo, da série pequenos objetos encontrados em exposições de arte - 2009
TEXTURAS, RUÍDOS E MEMÓRIAS encaixa-se em CASULO