29/11/2009


Lombra 1 - S/ título - fotografia analógica - 2009

Marcelo Marsan - Desconhecido e viril - fotografia - 2009


27/11/2009

Pequenas histórias sórdidas

“Ao passar pela guarita, os funcionários do prédio param de conversar, cumprimentam-no com o habitual boa noite e persistem calados até ele se distanciar rumo ao vestíbulo de seu bloco. No elevador, vigiado pela câmera, confronta-se no espelho. Ele sabe que há quem pense nele como homossexual por morar com a mãe e ouvir música clássica.”

O texto não está bom e fico lendo e relendo o parágrafo antes de decidir o que fazer com ele. Escuto então o chiado dos chinelos atrás de mim e inspiro fundo, preparando-me para sua chegada. Ela me pergunta o que é esta televisão, não tento explicar que é o note. Ela quer saber por que o pai não chegou até agora, eu deveria ligar para o serviço dele. Não repetirei que está morto. Salvo o arquivo, levanto-me. Ela se assusta ao me encarar. Desta vez, me reconhece. Admira-se ou se entristece: Minha Nossa Senhora, como você está acabado. Recomenda que eu largue Madalena, uma namorada antiga. Não sei por onde anda, se anda. Distancio-me rumo à sala, as paredes repletas de retratos e lembranças de lugares que desconheço. Ela me segue, um vulto de camisola, quase uma mortalha, quase um fantasma, não fosse o arrastar da borracha nos tacos. Esta Madalena não é mulher para você. Ela descreve todos os defeitos. Soube só recentemente o quanto a desprezava. Abro o piano e peço para se sentar. Ela ainda toca perfeitamente, quando começa pode ficar entretida por horas, absorta, absoluta, a alma intacta, os dedos ágeis nas mãos carcomidas pelo tempo. Gostaria de ouvir sua música, mas se recusa a me escutar. Percebo que não me deixará em paz. Quer atenção. Incito a contar algo antigo. Antigas histórias com quem já morreu ou quase. Adultérios, trapaças, vícios, torpezas, falcatruas. Algumas ela muda de protagonista para não se comprometer. Mas eu sei: só poderia ser ela. Deixo falar à vontade, enquanto meu olhar passeia pelas molduras e o papel de parede e o intrincado desenho do tapete e a escadaria dentro de outras escadarias dos tacos. O tempo passa e ela não para. Inspiro fundo. Continua seu monólogo, mesmo quando me levanto para buscar um dos espelhos escondidos pela casa. Sem dizer nada, entrego-lhe. Revelo seu rosto de velha, as rugas, os cabelos brancos. Ela se interrompe. Experimenta o relevo de sua própria face e tateia aquela do reflexo. A textura lisa no espelho deveria repousar na pele. Chora e grita. Chama pelos santos de devoção. Ela se afasta em lágrimas sem entender ou talvez entendendo o que acontece. Eu a amparo, a levo para o quarto. Apago a luz e encosto a porta. Ela logo esquecerá. Ela sempre esquece. Volto para a biblioteca sem livros na estante, caixas pardas de papelão pelos cantos, apenas o notebook sobre a antiga escrivaninha. Está tarde, demoro a engrenar: modifico o texto, continua curto, mas hesito em me alongar. Deixo para terminar no dia seguinte. Se conseguir.

“Ao passar pela guarita, os funcionários do prédio cortaram a conversa, deram o habitual boa noite e persistiram calados até ele se distanciar rumo ao vestíbulo de seu bloco. No elevador, vigiado pela câmera, confrontou-se no espelho. Suspeitavam que era homossexual. Não os culpava: um velho solteiro e refinado,cabelos tingidos e gostava de ópera. Ele mesmo pensaria o mesmo. Mas ninguém sabia que os cabelos eram tingidos para a mãe, uma ajuda para reconhecer o filho, mais velho do que deveria ser pela sua memória.
Talvez ele devesse atender a esta suspeita dos vizinhos. Assim evitaria a tentação de se deitar com ela. Seria fácil. Depois de vinte minutos, ela esqueceria e perguntaria pelo pai. Responderia o de sempre, papai acabou de sair. Mamãe então concluiria em um tom cínico e duro: logo vi.”

Brontops - 2009 - http://brontops.blogspot.com

26/11/2009


Mirian Homem de Mello - Por do Sol - fotografia - 2009

25/11/2009



Koisan Uchoà - S/título - poesia/intervenção (lambe lambe) - 2008

24/11/2009



Gustavo Peres - Mineral - Intervenção s/ fotografia - 2009

23/11/2009


Gina Dinucci - Retratos - intervenção s/papel fotográfico - 2007

21/11/2009



Fabiano Ramos Torres

19/11/2009


Sinval Garcia
distrações e desvios - fotocelular, 2009

(Copyright Sinval Garcia 2009 All rights reserved)
© Grupo UMCERTOOLHAR

17/11/2009

A Perspectiva do Cão.

"Dentro do rato as coisas eram por demais diferentes: somente quando passou a morar no rato é que Bauci pode enfim perceber a gênese dos ruídos: jurava que não estava louca na época em que ninguém ouvia o barulho das coisas sendo arrastadas, como se numa tarde a casa fosse convertida numa casa tomada, coisas que, como que por si próprias andassem de um lado a outro do assoalho. Agora sabia que os ratos eram a causa de tantas insonias. Ocorria que quando eles corriam pelas galerias, os órgãos eram lançados de um a outro lado. Bauci que outrora não dormia por conta do barulho, continuaria, por mais alguns meses, acordada: agora devido a uma atenção dispendiosa para evitar as colisões que certamente a esmagariam como a um filhote de rato sem pelos."

Fabiano Ramos Torres, 2009

14/11/2009


Natália Alavarce - Sem Título - fotografia - 2009

Natali Padovani - da série Invisíveis - técnica mista - 2005

Hugo Perucci - Sombra -pintura-técnica mista (Detalhe) -2006

Brunon Alcyone - Imagem Roubada -  colagem s/caixa de fósforo - 2009

12/11/2009

Manuela Eichner - Colagem - 2009

Chenepan-Lord Henry Wotton ... e eles atacam novamente - 2008

11/11/2009


Guilherme Valério - "O Mesmo Desenho de Novo" - desenho - 2009

10/11/2009

relevo na leitura

Acuse as alternativas falsas:

a) passando o dedo sobre a folha de papel na qual está impresso o texto, pode-se sentir a textura das palavras;
b)lê-se, com alguma dificuldade, o texto daquela língua cujo vocabulário não se domina;
c)lê-se, com intervalos de apreensão conteudística e reflexão, o texto de informações novas;
d) letras minúsculas em trebuchet seguidas de ) configuram sorrisos;
e) é o tempo, na leitura, quem constitui relevo.



Lucas Oliveira

09/11/2009


Jü Violeta - Brotando - Acrílica sobre papel de parede - 2009


04/11/2009


Luis Alexandre Lobot - Exposição Pública - intervenção - 2008

03/11/2009



Vânia Medeiros - Suspensão - Video-instalação
Parangochamas

Endiabrado, excomungado
sagrado e abençoado.
O corpo se despe dos resíduos
envolto em atemporal vestimenta,
na transparência que a pele pede
nas cores que o poros necessitam.
Na elasticidade que se movimenta
em imaculada e enlouquecida dança.
Na poesia que trafega e trespassa
o espaço em que o corpo se lança,
inabitável na inércia sufocante
amontoado no mofo do esquecimento,
sufocado em meio ás traças felizes
na tristeza em que a arte se decompõe,
dançando seu derradeiro movimento
na liberdade que nasce no fogo.

Ninil

02/11/2009


Maurício Parra - S/título -  gravura em metal - ponta seca - 2005

Márcio Marianno - S/título - Desenho - 2009

Rodrigo Motta - S/título - fotografia - 2009

01/11/2009


Marcelo Mansan - Teus risonhos, lindos campos têm mais flores - 2008
PAISAGEM ATO encaixa-se em RUÍDOS, TEXTURAS E MEMÓRIAS

Marcos Fabiano Lopes - Trilobita, série Fóssil - Stencil s/papel - 2009