16/06/2009

pela lei natural dos encontros,

eu perco/recebo tanto.

Mistério do Planeta, Os Novos Baianos

Zilma não saiu de casa naquele dia.

Deixou de encontrar o assaltante Alexandre que aproveitaria um descuido para levar-lhe a carteira. Uma quadrilha usaria seus documento em golpes por anos em um outro Estado. Zilma ficaria com o nome sujo. Aguardaria mais que os demais clientes na mesa de análise de crédito até finalmente ser recusada, a despeito de seus protestos. E então numa destas vezes, acabaria se apaixonando pelo funcionário da loja de eletrodomésticos, um sergipano chamado Serapião. Casariam-se e, depois de serem felizes, ele acabaria trocando-a por Giane, uma antiga namorada que conhecera no hospital, enquanto acompanhava sua mãe, vítima de um derrame. Mas talvez não encontrasse o assaltante Alexandre, porque no caminho pararia no supermercado apenas para comprar o que precisava. Diante da abundância de marcas e produtos coloridos, ficaria absorvida mais tempo que o necessário e o encontro com o assaltante não aconteceria. O Alexandre roubaria então um comerciante: na hora de fugir, atravessaria a rua em disparada, e um buraco no asfalto o faria cair sob as rodas de um ônibus. Dentre os passageiros, estaria o desempregado Antônio Coelho que, por conta do acidente, chegaria atrasado ao encontro com sua futura namorada e posterior mãe de seu primeiro filho. O atraso complicaria tudo, Alice receberia um torpedo do seu ex e acabaria desistindo do encontro. Mas a presença de Zilma no supermercado pouparia o ladrão, pois na fila engataria conversa com uma senhora aposentada, dona Tércia. Durante o diálogo que não houve sobre os preços que nunca são satisfatórios, dona Tércia relembraria a falta de material de limpeza. Ela sairia da fila do caixa, ficaria mais tempo no supermercado, e então encontraria Alexandre. Como não houve conversa, dona Tércia só perceberia a falta de material de limpeza no dia seguinte, dia da empregada. Que se chamava Giane e estava apaixonada por um sergipano chamado Serapião. E trabalhava para um português, pai de Antônio Coelho. Que chegou em tempo para o encontro, mas flagrou Alice respondendo ao torpedo. Aquilo gerou uma dúvida, que impediria o namoro de ir mais longe: transaram uma única vez, usando camisinha. E a criança que não nasceu, não se tornaria policial e não salvaria um garoto de afogamento que por sua vez, se tornaria um psicopata, assassino de sete mulheres chamadas Maria, os corpos abandonados à beira de um rio: os jornais chamariam o menino de Cabeça-de-Cuia, uma referência a um monstro folclórico que jamais existiu, por mais que as pessoas insistissem.


Mas Zilma não saiu de casa naquele dia; o homem que a amara na noite anterior a convencera disso. O mesmo homem que revelara o significado de seu nome: escuridão.



Brontops - CONTABILIDADE

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