Uma mulher com a corda no pescoço e um homem no fundo do poço
Ouço um moço
Gritar do poço
No fundo de si
A voz do moço
Anseia a corda
Que está em meu pescoço
É só o que quer, o moço
Subir e sair do poço
Com minha ajuda
Com minha corda
No poço onde está o moço
É sempre noite e alvoroço
Em cima, onde me encontro
O sol está se pondo
Quis Deus,
Em ironia,
Que em minha escolha
De morte
Eu ouvisse alguém clamar
Vida
Sua voz invocada por tênue força
Está se esvaindo
Mas ainda ouço o moço
Do fundo do poço
Decido
Quebrar o galho
Desatar o nó
E jogar a corda
Minha morte pode esperar
Por quem decidiu pela vida
Que o moço saia do poço
Depois mastigo meu desgosto
O moço se equilibra na beirada do poço
E eu, desvalida, caio no fosso
Grito, não sei porque, para que ele me
Devolva a corda e me tire dali
Mas o moço, o mesmo moço
Que a pouco tirei do poço
Eu não mais ouço
Eu não mais ouço
Nem sei existe o tal moço
André Amaral
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