(apanharam-nos no ninho, quando nossos olhos sequer tinham se aberto. Colocaram-nos em gaiolas, e disseram: "agora esse é o céu". E foram dormir, achando que tinham nos calado. Mas a manhã veio e o cantar despertou dentro de nossos pequenos peitos amarelos. Eles não queriam acreditar naquilo. Cortaram nossas asas. Com toda a crueldade possível, cortaram nossas asas. E foram dormir, achando que tinham nos calado. Mas a manhã veio e o cantar despertou dentro de nossos pequenos peitos amarelos. Agora sim, tínhamos comprado briga com eles. Arrancaram nossas penas, furaram nossos olhos, nos deixaram sem água e comida. Foram dormir. A manhã veio e o cantar despertou dentro de nossos pequenos peitos amarelos. Eles nos mataram e jogaram nossos corpos em meio aos ratos. Foram dormir, achando que tinham nos calado. Mas a manhã veio e o cantar despertou, agora de dentro de um céu vermelho vivo, em brasa.
Murilo Hildebrand de Abreu
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